terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eu ensinei a todos eles.


"Lecionei no ginásio durante dez anos. No decorrer desse tempo, dei tarefas a, entre outros, um assassino, um evangelista, um pugilista, um ladrão e um imbecil.
O assassino era um menino tranquilo que se sentava no banco da frente e me olhava com seus olhos azuis-claros; o evangelista era o menino mais popular da escola, liderava as brincadeiras dos jovens; o pugilista ficava perto da janela e, de vez em quando, soltava uma risada rouca que espantava até os gerânios; o ladrão era um jovem alegre com uma canção nos lábios; e o imbecil, um animalzinho de olhos mansos, que procurava as sombras.
O assassino espera a morte na penitenciária do Estado; o evangelista há um ano jaz sepultado no cemitério da aldeia; o pugilista perdeu um olho numa briga em Hong Kong; o ladrão, se ficar na ponta dos pés, pode ver minha casa da janela da cadeia municipal; e o pequeno imbecil, de olhos mansos de outrora, bate a cabeça contra a parede acolchoada do asilo estadual.
Todos estes alunos outrora sentaram-se em minha sala, e me olhavam gravemente por cima de mesas marrons. Eu devo ter sido muito útil para esses alunos - ensinei-lhes o plano ritmico do soneto elisabetano, e como diagramar uma sentença complexa." (PULLIAS, E.V. e YOUNG, J. A Arte do magistério. Rio de janeiro: Zahar, 1970. p. 48)






Lendo a frase final do texto: "Eu devo ter sido muito útil para esses alunos. Ensinei-lhes o plano ritmico do soneto elisabetano, e como diagramar uma sentença complexa" faz-nos repensar em qual tem sido nosso papel como educadores dentro de nossas escolas. Estamos preparando nossos alunos para simplesmente passarem nos vestibulares ou estamos preparando para a vida?